Quando eu estava com 15 anos fiz uma blusa simples sem moldar antes em papel.
Usei como modelo uma blusa de minha mãe que foi colocada sobre o tecido e riscada diretamente.
Foi a 1ª vez que costurei roupa para mim pois antes só costurava roupinhas para minha boneca que brinquei até os 14 anos e não tenho vergonha alguma em afirmar isso.
Esta foi a 1ª blusa que fiz.
Ela tem uma história dramática (no passado) e engraçada (no presente).
Antes fôra uma bela saia godê, como se sabe são extremamente rodadas. Foi presente de minha mãe, adorava a saia, porém havia um problema. Quando saía com ela, algumas vezes, ficava constrangida.
Se havia ventania tinha que segurá-la pois esvoaçava. E como esvoaçava!! por TODOS os lados! Eu com minhas duas mãos adolescentes não conseguia segurá-la na mesma velocidade com que a saia se levantava com o vento. Sempre saía com alguma amiga e portanto, nesses momentos, contava com ajuda para segurar a saia. Depois ríamos juntas afinal adolescentes riem à toa!!
Quando minha saia esvoaçava, lembrava de Marylin Monroe
na clássica cena de um filme para lá de chato (segundo eu):
"O pecado mora ao lado"
filme americano de 1955
A minha saia fazia exatamente isso (só não era plissada como a da Marylin) até que decidi não usá-la mais após passar o maior vexame da minha vida.
Sábado, um lindo fim de tarde ensolarado de Outono e eu voltava para casa. Estava caminhando os últimos metros que me distanciavam da casa de meus pais situada numa rua muito tranqüila de São Paulo e onde os vizinhos se conheciam a anos e costumavam sentar na entrada de casa para conversarem. Sómente mais seis ou sete casas adiante e, logo, eu estaria abrindo o portãozinho azul de casa.
Aos finais de semana, muitos rapazes ficavam na rua. Eram tão adolescentes quanto eu, uns jogando futebol no largo, outros empinando pipa na pequena praça defronte o largo ou andando de bicicleta.
Eu, tímida adolescente, obrigatóriamente tinha que passar por entre os dois grupos antes de chegar em minha casa.
Pois, justamente nessa hora bateu aquele vento, mas aquele senhor vento que vinha de norte a sul, de leste a oeste. De cima para baixo, de baixo para cima! Incrível e esquisito! bem naquela hora tinha que acontecer?!
Pois é...a Lei de Murphy existe e é uma ciência exata!
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Imaginem! euzinha....uma garota sózinha, jogou ao chão o que tinha nas mãos para segurar a tal da saia esvoaçante. Tentava segurar de tudo quanto era lado com apenas as 2 mãos (lógico!!) enquanto os garotos zoavam em volta de mim, assobiando, rindo, falando coisas que eu não entendia pois falavam juntos e riam ao mesmo tempo. Aquela balbúrdia!!
Estava "morta" de vergonha, sequer levantava os olhos para encará-los. Assim que pude, corri para casa ainda segurando a saia. As coisas caídas ficaram no chão. Depois, à noite, um dos rapazes entregou para meu pai.
Chega! Basta!
Ao chegar em casa, estava com muita raiva, fechei-me no meu quarto e chorei (aqueles dramas de adolescente, sabe?) com o rosto enterrado no travesseiro.
Minha mãe logo apareceu, preocupada, aflita, querendo conversar, saber o que havia acontecido comigo. Entre soluços e lágrimas contei tudo a ela.
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Disse que não queria mais a saia que ela havia me dado de presente e que gostava tanto de usar! que nunca mais sairia de casa por causa da tamanha vergonha que sentia.
Ela me abraçou e sugeriu desmanchar a saia. Pedi para ela fazer uma blusa bem bonita para mim. Pensava que ela faria mas a mãe conhecendo bem a filha, sabia que eu gostava de costurar e para me animar disse para eu fazer a blusa enquanto ela me ajudaria.
Minha mãe saiu por um breve instante, voltou com uma tesoura. Detalhista como sempre foi, ensinou-me a desmanchar as linhas das costuras sem afetar nenhuma fibra do tecido. Sem titubear, peguei a tesoura e ainda com um pouco de raiva desmanchei ponto a ponto, sem dó, todas as costuras da saia. Foi uma catarse!! acalmou-me completamente.
Enquanto desmanchava, minha mãe escolhia, nas gavetas dela, uma blusa simples que serviu de molde para riscar sobre o tecido da saia recém desmanchada. Já havia em mim o desejo de costurar e a saia acabou sendo a oportunidade para arriscar-me além das roupas de bonecas.
Sim, tive ajuda da minha mãe, na medida do possível, pois ela não sabia (não sabe) costurar nada. Aliás, ela sabia bordar muito bem e caprichosamente os lindos bordados da Ilha da Madeira (terra de meus pais) em barrados de lençois e fronhas.
Enfim, a blusa ficou pronta!
De lá para cá, se passaram dezenas de anos. Usei-a muitas vezes, vivemos juntas muitas histórias inclusive a de meu 1º emprego aos recém 17 anos, esteve comigo nos tempos de faculdade, passeamos, namoramos, viajamos juntas e tantas outras fases de minha vida, inclusive depois de casada.
Não a uso mais, estava guardada na gaveta a mais de 2 anos, a gola na parte interna está bem desgastada.
Não creio que valha a pena restaurá-la. Não quero usar a blusa porém não quero desfazer-me. E agora?
E a resposta veio rápida....
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Desapegar! Desapegar! Desapegar!
Combina com R-E-C-I-C-L-A-R!
Isso mesmo, eis a solução!
Ao contrário da saia, desmancharei a blusa com agradecimento afinal estarei reciclando o lindo tecido em outra coisa que ainda não sei o que será mas, com certeza, continuará junto comigo em outras novas aventuras.
Desapegar e Reciclar.
Dois verbos a conjugar!
E você, o que tem para desapegar?